Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme interessante, embora tenha falhas difíceis de ignorar.**
Quando vi este filme fiquei muito surpreendido porque me pareceu observar semelhanças com “O Sexto Sentido”, filme lançado no ano imediatamente a seguir, em 1999. Senão vejamos: em ambos os filmes, Bruce Willis é o protagonista e contracena directamente com uma criança especial (por motivos distintos), procurando ajudá-la em alguma coisa. O mesmo actor principal, a mesma estrutura a sustentar os dois roteiros, o envolvimento da figura da criança em ambos os filmes, a proximidade temporal entre ambas as produções… não pode ser apenas uma coincidência… ou pode?
Neste filme, Willis dá vida a um agente do FBI perito em operações de infiltração, que vai, todavia, interessar-se pela situação de um menino, autista e com forte inclinação para a solução de charadas e problemas mentais avançados, cujos pais foram misteriosamente assassinados. A acção do polícia vai, todavia, despoletar uma enorme operação, movida por elementos secretos dentro do aparelho governamental americano, que tem por objectivo matar aquele menino. O motivo? Ele inadvertidamente acabara por quebrar um código militar de alta segurança em que o governo investira milhões, e que acreditava ser o mais avançado de sempre.
O filme começa muito bem, e vai-se desenvolvendo de maneira satisfatória. Apesar disso, nunca parece uma obra coesa, talvez por um trabalho de edição deficitário… parece um conjunto feito de retalhos, em que nem sempre a linha narrativa faz sentido e que se vai desconjuntando mais à medida que o final se aproxima e o roteiro faz esforços desesperados para não deixar pontas soltas. O ritmo é bastante bom, e as cenas de acção são muito bem feitas, embora nem sempre a tensão e o ‘suspense’ funcionem realmente.
Willis provou ser um excelente protagonista. O papel que lhe foi dado, de resto, parece ter sido talhado à medida das qualidades do actor, que vai conseguir, nesta fase da sua carreira, diversos sucessos que o tornarão num nome a ter em conta pelos produtores de Hollywood. Apesar de ser muito novo, Miko Hughes também se desembaraçou muito bem do seu papel, apesar de não ser particularmente exigente, na minha opinião. Alec Baldwin é um vilão sólido e consistente, e faz uma participação contida, mas eficaz.
Tecnicamente, é um filme que apresenta solidez e qualidade. Não sendo um blockbuster, nem tendo a expressividade e grandiosidade visual dos filmes desse registo, é um filme que aposta de modo empenhado na utilização de efeitos visuais e especiais de qualidade, principalmente nas cenas de acção. A cinematografia é igualmente muito boa e atmosférica, e os locais usados nas filmagens ajudaram bastante. A banda sonora não é muito perceptível, mas contribui com notas de mérito para um panorama geral bem conseguido.
Em 22 Dec 2021