Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma boa peça de entretenimento familiar.**
Este é um daqueles filmes regulares de fantasia que fizeram um sucesso quando chegaram às televisões durante os anos 90, tornando-se numa presença bastante habitual nas tardes dos fins de semana e feriados. Agradando facilmente ao público infanto-juvenil, é um filme familiar que diverte, entretém e comove.
O filme ambienta-se num período incerto da Idade Média, num reino lendário europeu onde o jovem e cruel Einon reina com punho de ferro e sem coração. Na adolescência, a sua vida havia sido salva por um dragão que lhe deu metade do próprio coração. Agora, ele ignora as lições de honra e valor dadas pelo seu mestre e governa como um tirano. Porém, a população está farta dos seus desmandos e Bowen, o antigo mestre e tutor do rei, resolve liderar a revolta contra ele com a ajuda de um dragão, o último ainda vivo, e precisamente aquele que salvou o rei.
Não vou perder muito tempo com este filme porque está longe de ser uma obra relevante para os envolvidos, ainda que a sua popularidade naqueles tempos tenha sido assinalável. Há muitas coisas agradável e bem feitas neste filme, a começar pelo roteiro. Sim, é uma história fraca, que se parece muito com Robin Hood e outras histórias do tipo, está cheia de clichés e o humor é, no mínimo, sensaborão. Mas a verdade é que entretém e tem uma dose de fantasia e emoção suficiente para nos deliciar. Há algumas boas cenas de luta, a sequência de ataque ao castelo é emocionante e intensa, os efeitos especiais e o CGI (uma tecnologia nova, na época) usado são bastante dignos e fazem um trabalho muito bom, considerando o tempo e os recursos. Temos ainda uma excelente cinematografia e uma banda sonora memorável, verdadeiramente épica, e que foi depois aproveitada para mil e uma utilidades, como sabemos.
Os actores, apesar de não brilharem, fazem um esforço credível e empenham-se razoavelmente. Há alguns nomes bastante conhecidos aqui, a começar pela voz do dragão, emprestada pelo inconfundível Sir Sean Connery, num dos melhores trabalhos de dobragem de voz feitos por ele. Dennis Quaid foi suficientemente capaz no papel de um herói maduro, já pouco jovem, mas é a qualidade de David Thewlis que nos surpreende e rouba todas as atenções. O actor deu vida ao pérfido rei Einon de uma forma verdadeiramente notável, com empenho e emoção, dando-lhe toques de cinismo, sadismo e loucura. Tenho a fortíssima sensação de que Thewlis foi buscar a sua inspiração à maravilhosa performance de Peter Ustinov em “Quo Vadis”, no papel de Nero. Por fim, Pete Postlethwaite parece realmente divertir-se bastante com a personagem que lhe coube em sorte, um frade simpático com ares de grande trovador.
Infelizmente, não gostei nada de Dina Meyer: ela não faz um esforço pela sua personagem e a química romântica com Quaid é absolutamente nula. Também senti falta da contextualização, no tempo e no espaço: como o filme é fantasia pura, nem sequer temos a noção de um lugar ou época concretos, a fim de podermos copiar vestimentas, tecnologias, arquitectura. Apesar de o filme ter bons cenários e figurinos, eu não posso dizer que gostei realmente deles porque eram fantasiosos demais.
Em 09 Jan 2023