Autor: Filipe Manuel Neto
**Celebrar a rebeldia e a contestação na época em que tudo merecia ser questionado.**
Os finais dos anos sessenta marcaram a ascensão de uma cultura de rebeldia e contestação da ordem estabelecida. Os jovens, os estudantes universitários, as minorias, de repente a sociedade entra numa convulsão e começa a questionar e a fazer exigências. De um modo muito especÃfico, eu acho que este filme se encaixa muito bem nesse movimento, dando-nos a história de um homem que cometeu erros e pagou – isso é certo – e que, entre erros e acertos, quis encontrar um espaço próprio no mundo e viver a vida ao seu modo, e não do modo que a sociedade queria.
Luke Jackson é, verdadeiramente, um homem inconformado e o rosto de uma geração de pessoas cada vez mais descontentes com a sociedade em que vivem. O filme deixa claro que ele tinha tudo nas mãos para ter um destino diferente, uma vida estável e confortável, mas que as suas próprias acções deitaram tudo a perder. Porquê? Porque isso não bastava e ele queria algo diferente. Talvez ele mesmo não soubesse bem o que queria, mas sabia exactamente aquilo que não queria: sentir-se subjugado. Isso expressa o que a sociedade americana, em particular os jovens, vinham sentindo: chega de regras sem nexo, dogmas absolutos, ostracismos e vacas sagradas. Naquela prisão em que até para urinar ou beber água é preciso pedir permissão, Luke questionou todas essas regras.
Uma boa história, muito bem escrita e com diálogos magnÃficos, é acompanhada por um bom trabalho de cinematografia, cenários e figurinos, e por uma direcção eficaz garantida por Stuart Rosenberg. É no trabalho de edição e montagem que eu senti terem sido feitos os maiores erros, dando ao filme um ritmo desigual, algo cadenciado, composto por uma colagem de episódios da passagem de Luke por aquele campo de trabalho. Isto é, falta a ideia de unidade e de fluidez ao longo do filme, com várias situações semelhantes entre si e uma certa ausência de tensão dramática, que se sente mais na metade final.
Paul Newman assegura uma liderança forte e carismática e foi, sem dúvida, uma aposta segura para interpretar o herói rebelde. Felizmente para nós, o filme conta com o apoio de vários outros grandes actores em papéis de suporte impedindo que seja um trabalho de um homem solitário. George Kennedy, que ganhou o Óscar de Melhor Actor Secundário graças a este filme, destaca-se da multidão graças a uma interpretação esmerada, a melhor da carreira deste actor. Dignos de menção são ainda os esforços de J. D. Cannon, Jo Van Fleet, Lou Antonio e Strother Martin.
Em 16 Mar 2024