Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme quase mau, que Sean Connery salvou.**
Este filme é passado inteiramente na Amazónia brasileira, no meio de uma tribo de índios, onde um bizarro médico pesquisador vive há uns anos, analisando o que o rodeia em busca da cura para o cancro. Em resposta a um pedido de equipamento, ele recebe o apoio de uma médica mulher com a qual, imediatamente, começa a ter conflitos.
Bem, vamos por partes. O roteiro deste filme desagradou-me bastante. Começa bem e tem premissas boas, mas é mal desenvolvido. Tenta fazer algum humor leve que nunca tem graça, tenta ser sério mas estraga tudo ao fazer humor. Alguns momentos melodramáticos e excessivamente doces também se revelaram dispensáveis. O filme devia ser mais sério do que é, acho que o tema e as bases do roteiro pediam isso. E o que dizer do final? No mínimo, súbito e desinteressante.
Como quase sempre acontece, Sean Connery esteve totalmente à altura do desafio e da personagem que lhe deram. Ele sabe bem como tornar a sua personagem desagradável, misógina e irritante sem que ele se torne digna do nosso ódio e de maneira a que nós consigamos perceber que aquele médico, no fundo, é uma boa pessoa mas muito solitária, acostumada à solidão e cheia de fantasmas psicológicos. Lorraine Bracco, por outro lado, é muito má. Talvez a culpa não seja dela mas sim do roteiro e do casting. A actriz não foi capaz de agarrar a personagem dela e soa de maneira forçada e artificial durante todo o filme. Talvez outra actriz tivesse sido melhor aqui? O elenco secundário, onde se destacta o já falecido actor brasileiro José Wilker, faz o que precisa de fazer mas falha por omissão na maioria do filme, fruto de más opções de roteiro, ao deixar os actores principais quase sem suporte.
A nível técnico, eu destacaria apenas a boa banda sonora, escrita por Jerry Goldsmith, e onde podemos escutar alguns sons e instrumentos musicais que nos remetem, de imediato, para o ambiente tropical e tribal onde a história se desenrola, e ainda a boa cinematografia, que aproveita sabiamente a beleza da floresta tropical. Há, também, uma mensagem ecologista bem presente no filme, que por vezes soa um pouco propagandístico nesse campo, mas eu compreendo isso e creio que a mensagem transmitida é relevante e pertinente para nós, hoje tal como no dia em que o filme estreou nos teatros.
Resumindo, este filme de fundo ecológico não é um total desperdício de tempo e película, mas evitou esse triste destino por muito, muito pouco, e em boa medida graças ao talento e empenho de Sean Connery.
Em 30 Jun 2019