Autor: Filipe Manuel Neto
**Funciona melhor do que a maioria dos filmes para adolescentes.**
Este filme conta a história de uma jovem que muda de cidade e de escola, acabando por fazer amizade com um grupo de jovens bruxas.
Não sou propriamente um entendido na matéria, mas estas quatro jovens parecem praticar uma variação da Wicca. O pouco que conheço sobre este assunto foi-me ensinado e transmitido por uma antiga namorada, uma orgulhosa e assumida bruxa que, não sendo praticante da Wicca, me explicou que era uma espécie de religião neo-pagã, inspirada nos antigos cultos celtas e druídicos, e que assentava fortemente na práctica da magia cerimonial. No entanto, as bruxas do filme optam por ignorar aquela que, de acordo com a minha ex-namorada, é uma das mais fundamentais regras da magia: a Lei do Retorno ou Lei Tríplice, abundantemente citada no filme ("aquilo que se faz acaba por voltar em triplicado"). É precisamente o que acontece na segunda metade do filme, proporcionando ao público algumas das cenas mais intensas, à medida que as personagens vão sendo alvo do castigo das forças que tão ousadamente invocaram.
O enredo usa a bruxaria bem o suficiente, dando-lhe até algum realismo. Acredito que o facto de uma das actrizes ser, na vida real, uma praticante da Wicca, terá ajudado bastante a obter esse realismo. O grande pecado do filme, porém, é ser paulatinamente contaminado com os problemas mais comuns nos filmes para adolescentes: os clichés, as personagens estereotipadas, sugestões de romance perfeitamente desnecessárias etc. Isso retira alguma profundidade psicológica e impede o filme de se debruçar por questões muito mais interessantes e sérias, como os conflitos de personalidade, a vingança, a sede de poder e o modo como ele corrompe, entre outros. Outro problema é o modo forçado e pouco convincente com que o enredo revela o passado de Sarah.
Sobre o elenco, Robin Tunney fez um bom desempenho, mas faltou algo mais para lhe dar mais vida. Tratando-se de uma personagem complexa e com potencial psicológico, ela não foi capaz de exteriorizá-lo. Fairuza Balk, por sua vez, surpreendeu numa interpretação dramática e intensa, às vezes exagerada, mas de uma forma que não era má. Rachel True e Neve Campbell estão bem e cumprem com o que lhes é exigido.
O resultado final de todo este esforço e trabalho é um filme para adolescentes com algum potencial adulto e que entretém bem. Não assusta particularmente, pelo que não o podemos enquadrar como filme de terror ou thriller, mas funciona melhor do que a maioria dos filmes para adolescentes.
Em 08 Jul 2018