Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme cómico que fez sucesso, e que assenta no esforço talentoso de Eddie Murphy.**
Esta é uma das comédias que ajudou a consolidar o nome de Eddie Murphy como actor cómico, e não estarei a exagerar se disser que foi uma das comédias mais marcantes que surgiu na década de 90: quase toda a gente já viu este filme, independentemente de ter ou não gostado dele. A história é bastante simples e acompanha o percurso de um desastrado professor universitário de química que, sofrendo de obesidade mórbida, decide inventar um soro que lhe permite, instantaneamente, assumir a elegância física que sempre sonhou ter… mas quando ele se apaixona por uma esbelta mulher, decide testá-la em si e descobre um efeito secundário perturbador: uma dupla personalidade que ameaça banir a verdadeira e ganhar vida própria.
Eu chamei-lhe dupla personalidade, mas o mais correcto será chamar-lhe “alter ego”, pois Buddy Love – é o nome dela – é, na verdade, o reflexo de todos os desejos recalcados que o Professor Sherman tinha e que nunca concretizou: um homem bonito, sedutor, ousado e galanteador, espontâneo e extrovertido ao ponto de não ter qualquer espécie de vergonha e ter atitudes profundamente desagradáveis com outras pessoas. Freudiano? É realmente algo que só um psicanalista poderia entender, mas com que o filme brinca de uma maneira profundamente eficaz.
Mas nem tudo é bom neste filme. Os diálogos são bastante fracos e as piadas foram feitas com um estilo de humor tão rasteiro e sujo que uma pessoa como eu dificilmente consegue rir de facto. Há vários momentos em que isso se observa com maior evidência, mas todas as cenas onde a família Klump aparece merecem destaque pela negativa. É uma parte do filme que eu, sinceramente, teria cortado e suprimido, e que eu nunca deixaria um filho ou filha ver antes de termos uma séria conversa sobre o assunto.
Tecnicamente, o filme não é um espectáculo em aspecto nenhum, com excepção de todo o trabalho de maquilhagem e de figurino, desenvolvido em torno de Eddie Murphy e das várias personagens que ele foi interpretando no filme (falaremos disso mais adiante!). É um trabalho verdadeiramente notável, em que Murphy envelhece, rejuvenesce, engorda e emagrece consoante necessário, e sempre com bastante verosimilhança e autenticidade.
E o que dizer do trabalho do próprio actor protagonista? Eu creio que basta dizer que ele merece todos os elogios e louvores que recebeu pelo filme. Apesar das fraquezas e todos os defeitos que eu fui apontando, é inegável o empenho, a dedicação, o profissionalismo e o talento de um actor que, num só filme, interpreta oito ou nove personagens diferentes! Se há alguma coisa que faz este filme funcionar, é Eddie Murphy. Jada Pinkett Smith (na época ainda solteira, tanto quanto sei) fez um trabalho decente no papel de uma beldade que serve de interesse amoroso de Murphy, e faz um trabalho razoável com o colega, sem conseguir acompanhá-lo por um único minuto. James Coburn e Dave Chappelle fazem apontamentos positivos, mas que não passam disso mesmo.
Em 18 May 2024