Autor: Filipe Manuel Neto
**Um filme incrível e engraçado, que não merece acabar no esquecimento.**
Esta é uma das melhores comédias negras que conheço, muito embora padeça dos problemas transversais ao humor negro: é caustica, é irreverente, é sarcástica e tem uma acidez que não é para todos os gostos. E o mais interessante: reúne um extraordinário elenco cheio de caras que conhecemos bem e cujo talento dispensa qualquer apresentação.
No filme, duas amigas de infância passam a odiar-se mortalmente: elas competiram entre si por anos, principalmente no que diz respeito à própria beleza e ao amor, roubando os maridos uma da outra sempre que isso era possível. Após uma derrota, uma das amigas entra numa profunda depressão, engorda imenso e acaba num hospício, onde desenvolve uma obsessão homicida contra a velha inimiga de sempre. Quando sai para o mundo exterior, porém, ela apresenta-se linda, deslumbrante, poderosa… e determinada a vingar-se. Tudo graças a um elixir misterioso, ciosamente guardado por uma estranha mulher.
O filme é verdadeiramente imperdível para os fãs do humor negro, e vai seguramente agradar a outras pessoas graças ao tom cómico e a uma história rocambolesca, cheia de peripécias e de reviravoltas imaginativas, em que as personagens conspiram umas contra as outras, decididas a matar-se, e vão sobrevivendo, ainda que com marcas hilariantes nos seus corpos. É um daqueles filmes que perde quando tentamos explicá-lo por isso o melhor é mesmo vê-lo. Eu vi-o há muitos anos, e agora pude rever e voltar a deliciar-me com ele.
O elenco, como eu disse, está cheio de nomes famosos começando pela dupla de protagonistas Meryl Streep e Goldie Hawn. As duas actrizes são grandiosas e ainda são melhores quando estão juntas. Foi verdadeiramente uma surpresa ver Streep num trabalho tão distante do que ela nos habituou, mas não há dúvida que o trabalho empenhado das duas actrizes é uma forte razão para ver este filme. Bruce Willis também é muito bom e funciona bem, despindo o seu carisma habitual e assumindo o papel do marido/amante idiota e profundamente cómico. Para tornar as coisas ainda mais bizarras, temos a icónica Isabella Rosselini, magra e magnífica no papel de uma exótica e exuberante figura maléfica, tão estranha e surreal quanto uma gata esfinge.
Tecnicamente, o filme é uma pérola pouco reconhecida graças ao talento de Robert Zemeckis. Foi um dos filmes mais inovadores da sua década, onde foram ensaiadas diversas soluções novas ao nível do CGI, dos efeitos visuais e especiais, e onde foi utilizada, pela primeira vez, ‘software’ de pele humana foto-realista. Tudo o que seria usado mais tarde, e com mais mestria, em filmes que adoramos e que tornam este filme ainda mais surreal. A cinematografia cumpre bem o seu papel e os cenários e figurinos são verdadeiramente icónicos, com as mansões belíssimas das personagens e os vestidos usados pelas duas protagonistas (ou a quase ausência de roupas de Rosselini). A banda sonora não merece tanta atenção, mas cumpre o seu papel.
Em 15 Sep 2021
