Autor: Filipe Manuel Neto
**Um bom filme cómico que não envelheceu com o passar dos anos.**
Não sendo eu um grande apreciador de banda-desenhada, conheço os álbuns de Astérix e Obélix, uma das colecções de banda-desenhada mais populares e aclamadas de sempre. O filme é uma comédia espirituosa que não procura basear-se em nenhum dos álbuns em específico, preferindo retirar inspiração de vários a fim de criar uma história nova para as personagens que já conhecemos. A meu ver, funcionou muito bem! Lembro-me de ter ido ao cinema ver este filme com os meus pais, e foi um prazer revê-lo agora, já adulto: não envelheceu mal e continua a ser engraçado decorridos vinte anos.
Dirigido e escrito por Claude Zidi, um director francês que não conheço, o filme chegou a ser considerado como o mais caro já feito em França, com um orçamento milionário e uma produção à escala de Hollywood. O investimento teve um bom retorno, com o filme a ser um enorme sucesso na Europa. Não sei se chegou a ser tão bem acolhido no mercado norte-americano, avesso ao consumo de produções estrangeiras, mas o certo é que o filme deu bons lucros e recebeu boas críticas, ainda que tenha sido virtualmente ignorado pelos principais prémios da indústria: por esta época, bastava um cineasta americano gizar uma ideia mais abstracta que Cannes iria ovacioná-lo por quinze minutos, mas qualquer filme de qualidade oriundo da Europa iria muito provavelmente esborrachar-se contra o "lobby" demolidor da “fábrica de sonhos”. Hoje não é bem assim, e ainda bem.
Não pensem que este filme é maravilhoso e incrível… é apenas um bom filme, que nos dá exactamente o que promete e faz tudo o que precisa fazer com competência. Não é um trabalho de carreira nem vai definir a vida de nenhum dos envolvidos. É apenas uma boa peça de entretenimento. No entanto, é precisamente por isso que eu o aprecio: é bom no que se propõe fazer e não perdeu qualidades com o envelhecimento. A cinematografia é muito boa e os cenários, criados à escala, esbanjam uma autenticidade de que sentimos a falta após tantas telas verdes noutros filmes. O filme reserva os efeitos especiais para os momentos em que são realmente benéficos para o que quer fazer e até animais verdadeiros foram usados, incluindo tarântulas e crocodilos, e um boneco animatrónico que foi criado para o efeito e que teria sido substituído por CGI se o filme fosse feito agora. Os diálogos são profundamente bem escritos e espirituosos (eu vi a versão original em francês) e as piadas são óptimas. As cenas românticas inseridas são pueris e ternurentas, sem um só traço de lascívia. Em suma, o filme brinca bastante com todo o universo de Astérix sem nunca faltar ao respeito aos trabalhos originais em papel.
O elenco conta com uma série de grandes actores franceses e alemães, onde pontificam Christian Clavier e Gérard Depardieu, dois nomes grandes do cinema francês. Ambos os actores estão ao seu melhor nível, especialmente Depardieu. É difícil imaginar um actor mais qualificado para interpretar Obélix sem deixar que a personagem caia na caricatura. Laetitia Casta, que fez neste filme a sua primeira aparição nas telas, está encantadora no papel do interesse amoroso de Obélix. Ao lado deste trio temos Michel Galabru, Arielle Dombasle, Sim, Claude Piéplu, Pierre Palmade e Gottfried John. Do lado do inimigo está Roberto Benigni, um actor que nunca chegou a conquistar o coração da América (nem no dia em que ganhou o seu Óscar), mas que já deu provas de grande talento como cómico e teve, neste filme, um dos seus trabalhos mais notáveis.
Em 19 Sep 2025