Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma adaptação cansada e desinspirada de um romance super famoso.**
Este filme é mais uma adaptação para o cinema do famoso romance com o mesmo nome de Louisa May Alcott, um daqueles livros clássicos que está constantemente a ser alvo de adaptações e releituras quase permanentes. Portanto, eu acredito que mesmo aqueles que nunca leram o livro original – como eu, admito – conhecem minimamente a história, que se centra nas dificuldades e nas peripécias domésticas de uma família da classe média do Norte dos EUA durante os anos traumáticos da Guerra Civil Americana. Com o patriarca da família ausente no campo de batalha, compete à sua esposa ser o suporte da casa, onde vive com quatro filhas muito diferentes entre si.
O roteiro, realmente, dispensa grandes apresentações. Não tendo eu lido o livro original, não me sinto, todavia, a pessoa mais indicada para tecer considerações sobre a qualidade da adaptação desse material, e limitar-me-ei a falar exclusivamente do que vi no filme. E o que vi é moderadamente bom. Não é um filme incrível, não é a melhor adaptação que já vi, não é um filme de época impecável, mas é um bom pedaço de entretenimento que é perfeitamente adequado para ver com toda a família num serão de fim-de-semana. E apesar de o filme já ter alguns anos – foi lançado em 1994 – não envelheceu um só dia e permanece tão fresco e agradável hoje como há trinta anos atrás.
O elenco é, indubitavelmente, um dos pontos mais fortes do filme. Susan Sarandon é uma aposta segura e sólida para dar vida à Sra. March. Ela dificilmente será a actriz favorita de uma legião de fãs e é razoavelmente discreta, mas tem talento, capacidade e sabe muito bem como encarnar estas personagens fortes, dignas e maduras. Winona Ryder, que nesta época vivenciava o auge da carreira artística, também é excelente no papel de Jo. Claire Danes e Samantha Mathis eram bastante jovens, mas mostraram enorme força de vontade e talento neste trabalho. Trini Alvarado é a mais discreta do quarteto de irmãs, mas faz o que é necessário para se desembaraçar da tarefa que tinha em mãos. Kirsten Dunst fez um papel menor, mas relevante, e seria injusto não mencionarmos as contribuições sólidas e positivas de Gabriel Byrne e Christian Bale nos principais papéis masculinos.
Contudo, este filme tem um enorme problema: é absurdamente morno e sensaborão. Não é um filme que fica na nossa mente por horas e horas após termos acabado de o ver, é um filme que nós vemos, gostamos medianamente e, algumas horas depois, já está esquecido. A cinematografia, edição e banda sonora são totalmente ‘standard’, sem surpresas nem um investimento claro por parte da produção. A recriação da época histórica é imprecisa para dizer o mínimo, estando carregada de erros factuais, de adereços incorrectos, de figurinos e penteados anacrónicos. A produção simplesmente não se importou em contratar algum tipo de consultor histórico sério e ficou satisfeita com uma aparência teatral do que podia ser o período da Guerra Civil. Também os diálogos e atitudes do elenco não correspondem ao que seria esperado de pessoas daquela época. Outro problema grave do filme é Gillian Armstrong, uma directora totalmente desinspirada e que nos dá uma visão cansada e um pouco triste do romance de Alcott. Compreende-se, assim, que quase ninguém se lembre deste filme nos dias actuais. Não vale, realmente, a pena… só para os fãs das actrizes ou actores no elenco, e mesmo eles tiveram, todos, trabalhos melhores antes ou depois.
Em 10 Feb 2024