Autor: Filipe Manuel Neto
**Tom Hanks deu vida e carinho a este projecto, que nos recorda facilmente os anos dourados do "rock and roll".**
O filme é uma história muito simpática que gira em torno do mundo das estrelas efémeras do “rock and rol”. Em 1964, um grupo de jovens da Pensilvânia sai repentinamente do anonimato quando a sua banda de garagem, os Wonders, consegue a fama e o sucesso à custa de uma só música, “That Thing You Do”. Acreditando num potencial que podia não existir, os olheiros do mundo musical não perdem tempo e os rapazes conseguem um contracto com uma grande gravadora, que fica expectante à espera de músicas igualmente boas. Porém, a fama repentina vai testar a solidez do grupo, a maturidade e responsabilidade dos jovens e a capacidade deles para resistir às tentações que o dinheiro e a notoriedade sempre possibilitam.
Tom Hanks é mais que um protagonista, ele é a locomotiva que puxa o filme e o torna possível. Ele havia conseguido a fama à custa de boas comédias como “Big” ou “Money Pit”, mas tinha conseguido a sua consagração em filmes como “Sleepless in Seattle”, “Philadelphia”, “Forrest Gump” e “Apollo 13”. Além disso, já tinha dois Óscares na prateleira de casa, portanto ele tinha os meios para alavancar um projecto de que gostasse, e não há dúvidas de que gostou deste e foi a alavanca que o fez ir para a frente. E ao contrário do que é recorrente neste tipo de situações, ele não quis o papel principal: é num papel razoavelmente mais modesto que o vemos, um papel onde ele não deixa de se destacar.
O protagonismo cabe aos rapazes da banda, interpretados por Tom Everett Scott, Johnatton Schaech, Steve Zahn, Ethan Embry e Giovanni Ribisi. Todos bastante jovens, ainda no começo das suas respectivas carreiras, todos capazes de um trabalho relativamente bem conseguido e honesto, especialmente Scott, a quem é dada uma visibilidade um pouco maior. Temos ainda a destacar a participação agradável de Liv Tyler e Charlize Theron.
O filme é bastante leve, animado e alegre, mesmo nos momentos mais tensos, e em que toma caminhos que poderiam torná-lo mais denso, mais dramático e profundo, o que evita sempre. Isso foi uma opção consciente, estou certo, e que é discutível. Onde o filme se destaca é na sua atenção aos detalhes históricos, no cuidado com que procura recriar a época e os ambientes por via da escolha de adereços adequados, de um bom figurino e maquilhagem, além de um conjunto de excelentes cenários. E sendo um filme tão musical, a banda sonora é incontornável e vibrante, com músicas que ficam no ouvido e onde a melodia principal, criada especialmente para o filme emulando a estética e gosto da época, merece um destaque muito especial.
Em 14 May 2023