Autor: Filipe Manuel Neto
**Um bom filme, mas não tão memorável quanto alguns dizem por aí.**
O director Sidney Lumet criou este filme baseado num incidente verdadeiro que ainda é, actualmente, alvo de estudo pelos cadetes da polícia: um homossexual que resolve assaltar um banco para pagar a mudança de sexo do seu companheiro, mas que toma o gerente e as funcionárias como reféns quando as coisas se complicam, e procura desesperadamente não ser morto ou preso pela polícia, que cerca o local e procura controlar uma multidão enlouquecida, e pouco simpática às autoridades. O filme foi feito e lançado em 1975, e não podia ser mais adequado ao tempo em que foi feito: a grande década da desobediência civil, da contestação às autoridades e da afirmação mediática do movimento gay.
Eu confesso que não estou bem a par do incidente real que está por detrás do roteiro. Por isso mesmo, prefiro focar-me nesta dramatização muito bem feita. Além da concepção de cenários e figurinos, e de uma escolha inteligente do local das filmagens, a cinematografia é muito bem executada e o filme tem muito boas qualidades visuais. O ritmo agradável é razoavelmente rápido no começo, mas abranda no meio da execução, talvez emulando os avanços e recuos da negociação entre as autoridades e os atrapalhados assaltantes. E se a história é o espelho da sua época, o mesmo se pode dizer dos diálogos, onde se utilizam palavrões com uma liberalidade antes impensável.
Apesar de muitos considerarem este filme como imperdível, eu sinceramente discordo. É imperdível para os fãs de Al Pacino ou Lumet, será seguramente uma boa sugestão para um ciclo de cinema dos anos 70, mas é basicamente isso. É um filme bastante bom, mas dificilmente se pode classificá-lo como memorável. Al Pacino é um grande actor e está a viver um momento particularmente feliz da sua carreira quando faz este filme, mas tenho de reconhecer que ele fez vários filmes melhores, antes e também depois. Basta pensar em “O Padrinho 3”, “Perfume de Mulher” ou “O Advogado do Diabo”, para citar alguns. John Cazale é bom num papel mais discreto, e Charles Durning e Chris Sarandon merecem ambos um louvor por um trabalho bem feito.
Em 14 Apr 2024