Autor: Filipe Manuel Neto
**Português**
**_Esperava algo mais_**
Bem, devo confessar que esperava algo mais deste filme. Night Shyamalan tem estilo e algum talento que nos deu muitos bons filmes, mas este filme perde-se nos detalhes.
A trama é uma verdadeira homenagem ao mundo da banda-desenhada, contando a história de um homem que trabalha como segurança num estádio. Ele é como muitos de nós, até tem problemas conjugais para resolver, mas tudo muda quando ele é abordado por Elijah Price, um afro-americano com uma doença terrível e rara que faz os seus ossos tão quebradiços como vidro. Ele diz-lhe então que ele é dotado de poderes sobre-humanos. A trama parece atraente? De facto, é uma abordagem original ao tema: os heróis e vilões da banda-desenhada são espelhados nos personagens principais, bem como em várias referências e alusões que surgem discretamente: alguns ângulos de câmara, a capa de chuva no final do filme, etc. Os principais actores ( Bruce Willis e Samuel L. Jackson) são muito competentes e desempenharam muito bem os seus papéis mas Willis esteve particularmente bem, encarnando perfeitamente os conflitos emocionais e psicológicos do seu personagem.
Mas você provavelmente está a pensar assim: "com tantos bons argumentos, onde é que ele pensa que o filme se perdeu?" Em primeiro lugar, existem algumas situações que não são totalmente compreensíveis e alguns detalhes que penso serem contraditórios, o que pode indicar que houve alguns erros na escrita do roteiro. Na verdade, até parece que o argumentista dedicou a maior parte da sua atenção ao final do filme (falamos sobre isso mais tarde). Talvez o detalhe contraditório mais óbvio seja a bengala de vidro que Elijah usa. É simplesmente incompreensível que ele decida usar uma bengala tão frágil quanto os seus próprios ossos. E como é que Elijah podia reconhecer o carro de Dunn para lhe colocar o cartão no pára-brisas se ambos ainda não se haviam conhecido? A origem dos poderes de Dunn é outro problema, na medida em que nunca é explicada ao contrário da condição de Elijah, que sabemos sofrer de uma doença. Há ainda mais um detalhe que me parece fora do lugar: David mata um homem numa luta. Isso vai um pouco contra a essência dos heróis de banda-desenhada, e lembre-se, o filme tenta encarnar no personagem de Willis as qualidades de um super-herói. E uma das suas qualidades é não fazer justiça por mãos próprias. Na banda-desenhada, os "bandidos" são entregues às autoridades ou morrem como resultado da sua própria acção. Quando Dunn mata com as próprias mãos, está mais próximo de um "vigilante" do que um herói, não importam as boas intenções.
Apesar destas notas negativas, "O Protegido" é um filme que faz o que se propõe a fazer e entretém o público muito bem, principalmente devido à ideia central do enredo, ao excelente desempenho dos actores e à inesperada reviravolta no fim. Esse toque final brilhante impediu o filme de ser uma decepção, uma ideia brilhante mas que foi mal aproveitada. O final, em última análise, salva o filme desse destino fazendo com que o público esqueça os erros anteriores.
**English**
**_I was expecting something more_**
Well, I must confess I was expecting something more of this movie. Night Shyamalan has a lot of style and some talent that gave us a lot of good movies. But the movie lost itself in the details.
The plot is a true homage to the world of comics, telling us the story of a man, who works as a security guard in a stadium. He is like many of us, and even has marital problems to solve. But everything changes when he's boarded by Elijah Price, an African-American with a terrible and rare disease, that makes his bones so brittle as glass, that tells him that he's gifted with superhuman powers. Well, the plot seems appealing? Indeed, it's an original approach to the subject: comic's heroes and villains are mirrored in the main characters, as well on several references and allusions that arise discreetly: some camera angles, the raincoat at the end of the film etc. The main actors (Bruce Willis and Samuel L. Jackson) are very competent and played their roles very well. Willis was particularly good, while perfectly embodying the emotional and psychological conflicts of his character.
But you are probably thinking "with so many good arguments, where the film lost it's way?" First of all, there are some situations not totally understandable and some details I think are contradictory, which may indicate that there were some mistakes in script's writing. In fact, it almost seems that writer has devoted most of his attention to the end of the film (we will talk about that later). The first, and perhaps the most obvious contradictory detail is the Elijah glass stick. It's simply incomprehensible that he uses a cane as fragile as their own bones. And how Elijah could meet Dunn's car to put his card on the windshield if both still didn't know each other? The origin of Dunn's powers is another problem since we don't know it's origin, unlike Elijah condition, which we knew it's caused by a disease. Another flaw is the fight where David commits murder, something that a superhero simply don't do (and remember, the movie tries to embody in Dunn's character the qualities of a superhero). In the comics, the "bad guys" are defeated and handed over to the authorities or die as a result of his own wickedness. When David Dunn kills with his own hands he are closest to a "vigilante" than a hero, no matter the good intentions.
Despite these negative notes, "Unbreakable" is a film that does what it sets out to do and entertains the audience very well, mainly due to the central idea of the plot, the excellent performance of the actors and the unexpected plot twist in the end. Without the final twist of the story, this movie probably would have been a disappointment, a brilliant idea for a movie that would have ended badly used. Thes surprising ending ultimately "saves" the film from that destiny, making the audience forget previous mistakes.
Em 13 Feb 2018