Autor: Filipe Manuel Neto
**Bastante mal editado e cortado, este filme é absolutamente esquecível.**
Vi este filme por duas vezes, e sinceramente não consigo acreditar nele. Foi verdadeiramente o mesmo que queimar dinheiro. Após ficar impressionado com a má qualidade do filme, fui ler e pesquisar a respeito, e descobri a eventual causa deste desastre: desde o início, era um projecto fadado ao fracasso. Mal planeado, foi filmado num lugar onde as condições de clima iam causar problemas. A ambição de fazer mais e melhor é saudável, mas neste caso causou uma escalada de custos. Para tornar as coisas mais difíceis, a produção foi pautada pelo desentendimento de Kevin contra Kevin, posto que o director, Kevin Reynolds, foi por diversas vezes contrariado pelo actor principal, Kevin Costner. O desentendimento mais gritante poderá ter acontecido durante a pós-produção, com o actor e o estúdio a exigirem um corte a direito no filme, que ficou manco e mal editado. Tinha tudo para correr mal…
Eu sei, agora, que há versões estendidas do filme, mas não encontrei um “corte do director” que fosse capaz de reverter a alterações e dar-nos a versão que Reynold pensou inicialmente. O que vi é a “versão canónica” de cerca de duas horas, e detestei. O roteiro baseia-se num futuro muito apocalíptico e mal explicado, onde a totalidade do mundo está alagada e se criou um mito onde, algures, haveria terra, mas que nunca ninguém efectivamente foi capaz de confirmar. As poucas pessoas sobreviventes vivem em atóis e ilhas artificiais, e em barcos. O filme nunca nos mostra uma tempestade, um furacão ou algo que ameace a vida daqueles sobreviventes, e nem explica como sobreviveram, ou porque motivo ninguém explora devidamente o mundo para descobrir sinais de terra. Há muitas pontas soltas e coisas absurdas, e o filme só funcionará se evitarmos pensar muito nisso.
O elenco assenta solidamente sobre as costas de Kevin Costner, e mesmo aqueles que não são particularmente fãs do actor terão de concordar que ele faz um exercício de actuação bom, e é carismático o bastante para assegurar o protagonismo que se espera dele, principalmente se nós tivermos em conta o quão indigesta e antipática a personagem dele consegue ser. Dennis Hopper é um vilão agradável, mais caricato do que realmente ameaçador. Jeanne Tripplehorn é decente e satisfatória.
Tecnicamente, o filme destaca-se pela aposta em excelentes valores de produção, sendo claro o esforço dispendido e o dispêndio financeiro aplicado: a escolha dos locais de filmagem é muito boa, apesar de ter trazido muitas dificuldades práticas e logísticas à produção; a cinematografia aproveita todas as oportunidades para tornar o filme belo e elegante. Os cenários e figurinos, feitos de forma extremamente realista, são excelentes e vê-se que foram caros e detalhados. As cenas de acção foram bem pensadas e executadas, e poderiam ter sido melhores se o filme não tivesse sido estruturado para uma classificação tão baixa. Bons efeitos e uma banda sonora que satisfaz sem encantar compõem o quadro geral de um filme bastante esquecível.
Em 29 Nov 2022