Jogos Patrióticos

Autor: Filipe Manuel Neto

**Apenas mais um filme de acção esquecível dos Anos Noventa.** Tudo começa com umas férias em Londres. Um pacato cidadão norte-americano que, por acaso, é um ex-agente da CIA, está no local certo e à hora certa, conseguindo impedir o assassinato de um primo da rainha britânica por agentes de uma facção ultra-radical do IRA. Maravilhoso, não é? Porém, um dos terroristas que morre no atentado fracassado é irmão de um outro, que foi preso mas é libertado pelos seus companheiros de armas, embarcando numa jornada de vingança contra o americano que ele considera responsável pela morte do seu irmãozinho. Para se defender, e defender a própria família, o ex-agente da CIA resolve deixar a aposentadoria, batendo à porta da sua antiga organização e pedindo para voltar ao activo. Bem, se este resumo de roteiro parece estranho ou pouco credível é porque, realmente, assim é. E esse é o maior problema deste filme de acção que, tirando isso, satisfaz e cumpre aquilo que nos promete. O filme não é totalmente mau mas, de facto, os argumentistas não tiveram qualquer cuidado ao escrever a história e os detalhes, quando são analisados ao pormenor, chegam a raiar o absurdo. Desde quando você, após deixar de ser espião, pode simplesmente pedir para voltar e ser imediatamente readmitido nas suas funções? As coisas não são assim tão simples! E como podia o agente norte-americano receber uma condecoração reservada apenas a cidadãos britânicos, numa cerimónia informal, na sua própria sala de estar, das mãos de um primo da soberana? Absurdo, uma total quebra de protocolo. Depois, houve uma tentativa, deliberada, de desculpabilizar o IRA e dar uma imagem neutra, até simpática, desta organização que, no passado, foi responsável por tantos mortos na vida real. Harrison Ford é o homem do filme. Ele está lá no momento certo, antevê brilhantemente os perigos, evita a morte por um triz e ainda dá uma forte porrada nos malvados. Nada de especial. Sempre foi o tipo de personagem em que Ford se saiu bem e há dezenas de filmes onde este actor está, essencialmente, a fazer isto. O mesmo se pode dizer de Sean Bean, que é o antagonista, o terrorista louco que se torna um canhão solto no convés do IRA. Mesmo assim, este actor é bom e merecia ter recebido um material melhor para trabalhar. Anne Archer é a permanente donzela em perigo e Thora Birch tentou fazer da sua personagem uma mulher de armas, mas não podia brilhar com uma personagem tão mal desenvolvida e quase sem visibilidade na trama. James Fox parece não saber exactamente o que está a fazer neste filme, Samuel L. Jackson permaneceu quase invisivel e James Earl Jones quase se limitou a representar de si próprio. Tecnicamente, o filme é regular, não havendo nada para ser dito dos efeitos visuais, sonoros ou especiais utilizados. Está dentro do que poderíamos esperar em 1992. A banda sonora também não brilha ou se destaca. O foco foi, de facto, inteiramente para as cenas de acção e de luta, os tiroteios e a sequência final. O problema é que é tudo tão parecido com outros filmes de acção que este filme, apesar de entreter e não desiludir quem quer acção, acaba por ser totalmente esquecível, não tendo virtualmente nada que o faça destacar na imensidão amorfa de filmes de acção.