Autor: Pedro Quintão
Yellowjackets – Temporada 3: começa bem, mas perde-se a meio - COM SPOILERS
Comecei a ver esta terceira temporada com boas expectativas. Os primeiros episódios mostraram que ainda havia bastante para explorar, especialmente na linha temporal dos anos 90. O ambiente continuava intenso, sombrio, e as relações entre as raparigas estavam cada vez mais tensas. Gostei bastante do foco no julgamento do treinador Ben, porque foi aí que percebemos o quão longe algumas delas estavam dispostas a ir. A série voltou, mais uma vez, a mostrar aquele lado mais animalesco e perturbador das personagens, e isso é o que sempre distinguiu Yellowjackets.
Também achei interessante a forma como algumas personagens secundárias, como a Melissa e a Mari, começaram finalmente a ter algum desenvolvimento. E claro, não dá para não falar da Shauna. Está a demonstrar-se uma verdadeira vilã, e houve momentos em que me irritava profundamente com ela, o que para mim, é sinal de que as atrizes estão a fazer um excelente trabalho nas duas fases da personagem. A Sophie Thatcher, que faz de Natalie em jovem, continua a ser das melhores do elenco. Ela arrasa cada vez que aparece no ecrã, mas também sou preenchido por alguma tristeza, pois todos sabemos como vai acabar a sua história, e isso deixa tudo ainda mais trágico.
Na parte do presente, a série até começa com bastante mistério: há uma cassete que envolve o passado da Shauna, há mais pistas sobre a “outra” personalidade da Taissa (que parece cada vez menos um distúrbio e mais qualquer coisa sobrenatural), e há a questão sobre quem matou a Lottie. Só que, apesar de tudo isto parecer promissor, a série perde-se a meio. Os mistérios ficam em segundo plano, aparecem novos arcos que não levam a lado nenhum, e tudo começa a parecer uma série da CW. Só que com mais sangue e com um elenco superior.
O pior, para mim, foi mesmo a decisão de introduzirem três personagens da civilização a meio da timeline do passado: dois cientistas e um guia turístico. Isto podia ter sido o fim da linha: elas seriam encontradas, iriam voltar à civilização, mas não. Em vez disso, serve só para mostrar que a Shauna está cada vez mais cruel, e para meter reviravoltas que não fazem grande sentido, por exemplo: a cena em que a cientista mata o guia e decide juntar-se à seita foi de rir pela falta de lógica e de construção. Tudo acontece demasiado rápido, sem que nos expliquem bem porquê, só apostando no fator de choque.
No presente, a descoberta de que a Melissa afinal está viva podia ter dado pano para mangas, mas foi desperdiçada. Ela aparece, praticamente, só para explicar alguns mistérios de forma apressada, para matar a Van (outra decisão discutível), e depois desaparece sem impacto nenhum.
Yellowjackets continua a ser uma série interessante, com um conceito forte, um ambiente bem criado e um elenco que consegue segurar mesmo as cenas mais absurdas. Mas esta temporada sofre muito de falta de foco. Começa com promessas, aprofunda bem algumas personagens, mas depois perde-se em twists forçados e decisões sem peso. Ainda há potencial, mas é preciso que voltem a apostar mais na tensão psicológica, nas relações entre as personagens e menos em choques vazios.
Em 17 Apr 2025