Gen V

Autor: Pedro Quintão

**Season 2** Não costumo ter grande paciência para séries. Perdem-se, esticam temas, exigem demasiado tempo. Por isso, quando uma temporada me agarra do início ao fim, já é uma pequena vitória. A segunda temporada de GEN V começa mal, com um primeiro episódio lento e aborrecido, mas encontra rapidamente o ritmo certo e entrega algo raro no panorama atual: uma narrativa consistente, com enigmas bem doseados e respostas que são dadas no momento certo. O que mais surpreende é a força emocional do elenco principal. Há muito que não via um grupo de protagonistas tão equilibrado, onde consigo criar uma ligação empática e emocional com quase todos. Marie Moreau cresce de forma clara: mais segura, mais determinada, menos refém do seu trauma. Emma Meyer, que sempre correu o risco de ser reduzida a um alívio cómico com os seus poderes, torna-se mais humana. Nem sempre concordei com as suas escolhas, mas é precisamente isso que a torna realista. Cate, por outro lado, passou de irritante a uma personagem fascinante. O arco dela tem uma profundidade inesperada a tentar apagar erros do passado e, ironicamente, senti que as outras personagens é que lhe deviam desculpas, depois de quase a matarem e de fazerem com que ela perdesse um braço. Jordan Li também ganha espaço e protagonismo e tem momentos muito tensos em que temi pela sua vida. A exceção é Sam. Por mais que a série tente integrá-lo, a personagem parece perdida devido à ausência de carisma. Asa Germann não consegue puxar nada de interessante dali e não sei se a culpa é da escrita ou se é o ator que é limitado. O problema é que, mesmo em cenas emocionalmente carregadas, o Sam desenvolve e acaba por arrastar o ritmo. Quanto ao vilão, Cipher cumpre bem o papel. É enigmático e tem uma forte presença, e mesmo antecipando o seu segredo nos últimos episódios, o plot twist é inesperado o suficiente para manter o meu entusiasmo. A série continua a beber da insanidade habitual do universo The Boys: violência extrema, humor ácido, momentos totalmente absurdos e nudez gratuita. No entanto, aqui tudo parece mais afinado. Curiosamente, sinto que GEN V está mais inspirada e astuta do que a série-mãe, que ultimamente se tem tornado naquilo que sempre tentou satirizar: os clichés dos filmes de super-heróis. A segunda temporada de GEN V nunca perde tempo em moralismos e, por isso, torna-se viciante. Teve a proeza de me fazer devorar tudo num fim de semana sem dar por isso. O final deixa aquela sensação boa de que há mais para explorar, mais para descobrir, e sobretudo mais personagens para reencontrar. Se a terceira temporada mantiver este ritmo e esta escrita, Gen V pode muito bem ultrapassar a série principal.