Autor: Filipe Manuel Neto
**O glorioso "sci-fi azeiteiro" dos anos 80: quem não sente falta do tempo em que uma tosca máscara de borracha era uma boa ideia num filme?**
Eu realmente não sou um conhecedor de banda desenhada. Só ao ler acerca deste filme é que me apercebi de que as personagens tinham sido retiradas desse universo literário e de uma linha de brinquedos de acção criada pela empresa norte-americana Mattel. Isso é algo que me ajudou a entender a enorme confusão e patetice deste filme, que penso que só os fãs do brinquedo irão realmente apreciar.
O que este filme tem de melhor é o elenco. Há alguns actores muito respeitáveis aqui, e o seu empenho e talento é notável, elevando bastante a qualidade de um filme piroso. A participação de Frank Langella é particularmente boa. Ele deu vida ao grande vilão, um ser chamado Skeletor, que se parece com o Darth Vader no dia em que ele decidiu ir ao Halloween vestido de Morte. A personagem em si não é impressionante, é um enorme cliché sem qualquer capacidade de intimidação, mas Langella está mesmo a aproveitar e a divertir-se com este trabalho. Do lado oposto está Dolph Lundgren, jovem hercúleo e aparentemente invulnerável saído do mundo dos desportos de combate, que não sabe ser actor e tem as qualidades dramáticas de um abacate, mas que consegue corresponder ao que é pedido pela personagem. Meg Foster, orgulhosa proprietária de um dos mais belos pares de olhos do seu tempo, tem um carisma próprio e faz um trabalho muito bom.
Mas vamos ser honestos, alguém vai ver um filme só pelo elenco? Eu penso que não. É um bom argumento, mas não leva ninguém ao cinema só por si. O filme tem algo mais? Tem qualidades? Vale realmente a pena? Há públicos para todo o tipo de cinema, o que inclui cinema fraco, kitsch e B. A prova disso é o sucesso de certos filmes que nunca levariam ao cinema uma pessoa com o mínimo de bom gosto. Por isso, creio que o apreciadores de “sci-fi azeiteiro” vão ficar deliciados com este magnífico pedaço de queijo de sabor muito característico a anos 80. Temos de tudo: cenas de acção empolada e coreografada como um ballet russo, efeitos especiais extraordinariamente baratos, ao nível do “DIY”, um roteiro paupérrimo, personagens reduzidas a croquis, diálogos mais melodramáticos do que uma telenovela mexicana, maquilhagem tosca (a máscara de Langella é particularmente infeliz) e muitos tiros de ‘laser’, na era dourada dos ‘lasers’ e do néon. Uma palavra ainda para toda a banda sonora, inchada e arrogante como um adolescente de 16 anos com esteróides.
Em 06 Jul 2023