Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma oportunidade perdida.**
Este filme é baseado nos contos dos irmãos Grimm, mas também faz um retracto completamente ficcional dos dois irmãos que, na vida real, eram poetas, estudiosos e linguistas de origem alemã, que se dedicaram a coligir fábulas tradicionais da Europa Central. Assim, o primeiro passo para compreender o filme é perceber, desde o início, que é tudo ficção, baseada na mera existência dos dois irmãos. Aqui, eles são charlatães que ganham dinheiro a enganar aldeões supersticiosos quando expulsam e combatem bruxas e demónios que não existem. A primeira reacção deles, quando são chamados a investigar um fenómeno real onde várias jovens desapareceram, é de descrença, pensando que estão a lidar com uma elaborada intrujice.
O roteiro é inteligente, na forma como se aproxima dos contos de fadas e os reconstrói, mas perdeu-se a meio, com ideias e opções absurdas. Igualmente positivo foi o desempenho de Matt Damon e Heath Ledger nos papéis principais. Os dois actores são versáteis, fortes e trabalharam bem juntos. No entanto, o mesmo não pode ser dito de Lena Headey, que me pareceu algo artificial e cliché. Peter Stormare é o actor mais cómico, e os momentos mais fortes de humor são da sua personagem, um torturador italiano ao serviço dos franceses. Jonathan Pryce deu vida ao general francês e foi perfeitamente capaz de se tornar desprezível. Temos ainda bons figurinos e cenários, um bom uso da cor e dos jogos de luz e sombra numa fotografia inteligente, factores que tornam o filme visualmente atraente e bonito.
Resumindo, este filme é bom e tem qualidade. Mas as falhas no roteiro, os vários momentos em que a trama se perde e se torna idiota, acabam com as tentativas do filme para se tornar verdadeiramente marcante.
Em 17 Dec 2018