Autor: Filipe Manuel Neto
**Um blockbuster que entretém, mas está ambientado numa época medieval mais mal feita do que uma peça escolar.**
Filmes de temática medieval são adoráveis, mas raramente cumprem os mínimos requisitos de rigor histórico, preferindo criar uma ideia falsa de como era a Idade Média e de como as pessoas se comportavam. Este filme não é excepção por isso, se quer um filme historicamente respeitador, procure outra opção. Se a intenção é apenas um filme para entretenimento, prossiga.
De facto, este filme é um típico blockbuster medieval de entretenimento cheio de lutas de espadas, salvamentos épicos e uma dama à espera de ser salva. Inspirado nas lendas clássicas do Robin Hood, contam uma história inventada em torno das personagens que já conhecemos.
De acordo com o roteiro, Robin é o filho de um nobre inglês que acompanhou o seu rei na Terceira Cruzada, ficando prisioneiro dos muçulmanos. Após conseguir fugir, com a ajuda de um companheiro de armas, é salvo por esse companheiro, que morre a seguir. A partir daí, acompanhado por um mouro, Azeem, que se torna o seu guarda-costas, ele volta a Inglaterra para encontrar o seu lar desfeito, o seu pai assassinado e as suas terras tomadas pelo violento, injusto e diabólico Xerife de Nottingham. A partir daí, mercado como um proscrito, irá juntar-se aos bandoleiros da floresta e dedicar a vida a vingar o seu pai combatendo o Xerife, e também a proteger Lady Marion, a irmã do homem que morreu para o salvar.
Este filme foi feito durante a época dourada da carreira de Kevin Costner. Ele acabara de fazer sucesso em *Dança Com Lobos*, no ano anterior, e atingirá os píncaros da carreira no ano seguinte, com *O Guarda-Costas*, E neste filme ele faz tudo o que tem de fazer: brilhar, ser o herói, salvar o dia e lutar contra o mal, corporizado por Allan Rickman, outro grande actor que, neste filme, é excelente na sua tarefa de ser digno do nosso ódio, e interpreta a sua personagem de modo sinistramente engraçado. Tenho a certeza de que ele se estava a divertir com isso. Para além deles, temos uma excelente interpretação de Morgan Freeman, com toques de humor. Mary Elizabeth Mastrantonio é muito rígida e não seria nunca a minha escolha para fazer uma personagem destas, pois é incapaz de criar alguma profundidade emotiva e de ter química com Costner. Christian Slater é irritante e não serve para quase nada. Geraldine McEwan, Michael McShane e Nick Brimble são bons em papéis secundários, tendo pouco para fazer.
Como já tive ocasião de referir, o filme não tem nada a ver com a Idade Média. É apenas um filme moderno, com personagens com atitudes muito modernas, mas que se vestem como se fossem pessoas da Idade Média. Apesar de tudo, isso já era previsível num filme deste tipo, onde a liberdade criativa pesa mais do que o rigor histórico. Assim, temos elementos, algumas armas, peças de vestuário e adereços do século XIV num filme que é supostamente ambientado ao tempo da Terceira Cruzada, no século XII. Incrível, eles tinham máquinas do tempo?! Nah, apenas um roteirista surdo aos avisos de um bom conselheiro histórico. Por isso, dou uma nota mediana aos adereços, cenário e guarda-roupa: podem ser lindos, mas estão fora de lugar e de época. A cinematografia, porém, é bastante boa e a banda sonora é memorável.
Em 29 Jan 2021
Autor: Pedro Quintão
Há anos que estava para ver Robin Hood: Prince of Thieves e, sinceramente, não podia ter tomado melhor decisão do que a ter visto agora. Já passaram mais de 30 anos desde a estreia, mas marcou-me mais do que a maioria dos blockbusters atuais, pois mesmo sendo uma meta-produção, é cinema feito com amor, com vontade de entreter, de emocionar, de marcar quem está do outro lado, algo cada vez mais raro hoje em dia.
A história de Robin Hood já é lendária por si só, mas aqui ganha uma força especial através das personagens, todas elas marcantes, do tom épico e nostálgico do filme, assim como da banda sonora.
O carisma de Kevin Costner segura o filme do início ao fim. A química com Mary Elizabeth Mastrantonio é tão bonita e traz ternura e emoção à narrativa, por sua vez Morgan Freeman, demonstra que sempre foi um ator brilhante, entregando uma das personagens mais memoráveis e interessantes do filme (que vontade de me teletransportar para dentro do ecrã e ouvi-lo por horas). O saudoso Alan Rickman entrega um vilão detestável, mas com uma interpretação marcante.
O que mais me impressionou foi o equilíbrio. O filme tem ação, tem emoção, e um excelente ritmo onde nada parece forçado. Cada cena tem espaço para respirar. Durante duas horas, estive completamente absorvido pelo filme. E digo isto com toda a sinceridade: já não me lembro da última vez que um blockbuster me prendeu assim.
E não posso ignorar a banda sonora conduzida por Michael Kamen, que compôs algo que encaixa na perfeição com a alma da história. E claro, os créditos finais com Everything I Do do Bryan Adams tornam a experiência ainda mais emocionante, e deixam-nos agarrados ao ecrã mesmo depois do filme terminar.
Hoje em dia, muitas produções de grande orçamento parecem feitas em série, não têm alma, nem coração. São como farelo para frangos: rápidas, descartáveis e esquecíveis. Este Robin Hood é exatamente o contrário. Pode ter defeitos para críticos pseudo-intelectuais, mas para mim é uma prova de cinema feito para nos tocar, com personagens marcantes e momentos bonitos com alma (como o nascimento do bebé dos aldeões).
Não tenho dúvidas que entrou diretamente para a lista dos meus filmes de ação favoritos de sempre. Foi uma experiência especial, daquelas que marcam. E no fim, só consigo dizer: adorei.
Em 04 Aug 2025