Autor: Filipe Manuel Neto
**É um filme bom, mas tem as suas falhas.**
Este filme é baseado num romance de terror de Stephen King e dirigido habilmente por John Carpenter, um mestre consagado no que diz respeito ao cinema de horror. Conta, basicamente, a história de Christine, um carro dos anos Cinquenta que tem um espírito próprio e uma vontade instintiva de matar. O carro pertenceu, por décadas, ao mesmo dono mas, após a morte, foi vendido pelo irmão, em muito mau estado, ao adolescente Arnie Cunningham, um nerd adolescente, tímido e retraído. À medida que vai restaurando o seu novo carro, Arnie muda: muda a maneira de vestir e de ser, torna-se fanfarrão e convencido, arrogante até, e rapidamente se apercebe das características sobrenaturais do carro. Mas à medida que os inimigos dele vão morrendo misteriosamente, e que a polícia cada vez mais os vigia de perto, os pais e amigos de Arnie começam a tomar consciência de que o carro é um problema maior do que imaginavam.
Bem, devo dizer que gostei bastante deste filme. Tem estilo, tem charme, um bom ritmo e prende-nos até ao final. O roteiro é bom, e consegue tornar um objecto inanimado num verdadeiro vilão. O mérito é provavelmente de Stephen King. Acho mesmo que o livro é melhor que o filme (por exemplo, se o filme nunca explica a origem do mal de Christine, o livro explica-a de modo lógico e podia até ter sido aproveitado pelo filme). Há bons momentos de acção e algumas cenas notáveis, como o carro a reparar-se sozinho. O uso da música rock-and-roll como sinal sobrenatural da presença do espírito do carro foi inteligente. Também temos boas cenas de acção mas (o que é curioso sendo um filme de Carpenter) não há virtualmente uma gota de sangue falso ou tripas espalhadas pelo chão, o que pode decepcionar um pouco os apreciadores do gore massivo. Mas eu, da minha parte, lidei bem com isso. O que realmente me desagradou foi o final. Totalmente anti-climático e morno, longe do que este filme pedia.
O elenco é composto por actores que nao eram conhecidos na época, não sendo o tipo de filme que nós vemos pela qualidade do elenco e do seu trabalho: Keith Gordon fez um bom trabalho como Arnie mas, aos poucos, torna-se um ser detestável. O problema disso é que não sentimos pena alguma dele no final. John Stockwell é quem salva o dia no final e faz o que podíamos esperar dele, enquanto que Alexandra Paul não é muito mais do que uma permanente donzela em apuros. O restante elenco é apagado e aparece apenas quando tem de ser. A nível técnico, o filme é muito mais interessante. Não tendo uma cinematografia brilhante, compensa nos efeitos visuais, especiais e de som, que são bastante bons tendo em conta a época em que o filme foi feito. Os carros são bonitos e a banda sonora do filme é verdadeiramente boa, com canções de grande qualidade e uma aposta forte no rock-and-roll (se bem que a canção de abertura, de George Thorogood & The Destroyers, é igualmente excelente e um clássico do hard-rock).
Em resumo, apesar de não ser brilhante e ter falhas, é um filme que continua a merecer a nossa atenção. Ganhou estatuto de clássico e tem fãs, e proporciona-nos uma hora e meia de bom entretenimento, embora haja muito melhor por aí.
Em 03 Dec 2019
Autor: Lucas Dominic
Cada vez mais fã do Carpenter.
O cara joga os mistérios, suas loucuras, recheado de suspense e sempre com trilhas maravilhosas. O espectador escolhe como interpretar, e isso faz toda diferença em um filme.
O filme consegue manter o padrão do inicio ao fim, com uma boa história, por mais que boa parte dela seja interpretativa e sobrenatural. ainda assim, o filme tem momentos incríveis, cenas muito bem filmadas, e efeitos gráficos, que para época era surreal.
Um filme que atravessa gerações e se mantem, forte como um ótimo exemplar da década de 80.
Em 24 Feb 2022