Autor: Filipe Manuel Neto
**Uma comédia esquecida e mal amada, mas que não é tão má como dizem.**
Tudo bem, eu reconheço que este filme não é bom e tem vários problemas. Porém, foi o produto de uma época em que as paródias non sense estavam na moda. Recordo que a franquia *Academia de Polícia* foi dos êxitos dos anos anteriores, tendo continuado a ter aceitação na TV ao longo dos anos 90. É um filme familiar, educado, que tenta pelo menos ser engraçado sem recorrer ao humor brejeiro e escatológico, que tem sido mais popular entre os jovens. Apesar dos problemas e defeitos do filme, que são inegáveis, talvez a forma como encaramos o humor e o que nos faz rir também tenha ajudado a enterrar este filme na lata do esquecimento.
O roteiro baseia-se na relação complicada de Joe, um detective durão e independente, com a sua mãe idosa, Tutti, que veio visitá-lo a despeito de ele não o desejar, e que se intromete muito na vida pessoal e amorosa do filho, sujeitando-o a situações profundamente embaraçosas, como mostrar a todos fotografias da sua infância e histórias picarescas que o mesmo preferia guardar para si mesmo. O filme mostra-nos a forma como aquela mãe é verdadeiramente apaixonada pelo seu filho, e resiste teimosamente a reconhecer que já não tem de cuidar dele como cuidava. Também nos revela a maneira como, no fundo, ele gosta da sua mãe, preocupando-se com ela e aceitando a sua ajuda quando vê que ela tem razão no que diz. Para muitas pessoas, o filme é puro nonsense, mas a verdade é que eu conheço muitas mães assim, para quem os filhos nunca crescem, e que gostam de ter uma palavra a dizer na vida deles, mesmo que isso não seja o que os filhos querem.
O filme é engraçado, de uma forma educada e moderada. Não é espalhafatoso e sabe parodiar bem os filmes de acção policiais que fizeram êxito nos anos 80. Apesar disso, tem uma história rebuscada envolvendo uma situação de fraude de seguros e tráfico de armas, vilões que nunca merecem o nosso respeito nem ameaçam, personagens cliché carregadas de quase todos os estereótipos possíveis e uma total ausência de direcção.
O elenco é fraco e não recebe material decente. Os holofotes voltam-se naturalmente para uma excelente interpretação de Estelle Getty, que consegue neste filme o desempenho mais popular da sua carreira. O nome mais sonante é, porém, o de Sylvester Stallone, que nos brinda com um trabalho que quase satiriza alguns trabalhos de acção que o tornaram popular. O actor viria mais tarde a admitir que considera este filme como o pior que protagonizou, e eu consigo perceber o motivo: há muitas cenas más, e algumas delas são particularmente dignas de arrependimento (a cena das fraldas, eu confesso, era algo que eu me recusaria a fazer). Não obstante, e apesar de estar longe do seu registo habitual, Stallone garante uma presença impactante e carismática.
O filme tem uma cinematografia fortemente datada, que tresanda a Anos 80, com cores lavadas e baixo contraste, mas eu julgo que isso faz parte da natureza do filme, que não pode ir contra o que havia em uso quando foi concebido. Há muitas cenas de acção, altamente previsíveis, mas bem feitas, onde os efeitos especiais trabalham razoavelmente bem. O ritmo é muito bom, não entra em melodramas cansativos nem nos cansa realmente.
Em 16 Mar 2022